A literatura ameríndia caracteriza-se pela literatura produzida pelos próprios indígenas que narram as experiências, individuais e coletivas, dos Povos Originários. Na contemporaneidade, a literatura indígena vem angariando espaço nas discussões acadêmicas, não apenas pela necessidade de conhecermos a cultura de nossos ancestrais, mas, principalmente, pela urgência de ouvirmos as vozes que foram silenciadas na história da colonização europeia, possibilitando uma revisão histórica a partir da perspectiva ameríndia. Quanto a isso, Aline Rochedo Pachamama (2020, p. 34) compreende que “as histórias sobre os Povos Originários e sua representação são marcadas por invisibilidades, silenciamento, violências físicas e simbólicas”. Assim sendo, a literatura produzida pelos povos originários sinaliza o desejo de não apenas “corrigir” a história, mas recontá-la a partir da ótica dos povos subjugados, encaminhando-se para a reivindicação de sua identidade étnica-cultural, rasurada no processo civilizatório.
A literatura ameríndia pode ser vista como um instrumento de luta e combate a toda e qualquer forma de opressão e exclusão social, instigando, ainda, dentre outras coisas, a igualdade, a democracia, a harmonia entre o homem e a natureza. Não por acaso, notamos que na atualidade, está se despontando no universo da literatura para crianças e jovens, escritores indígenas, como é o caso de Daniel Munduruku, que já publicou mais de 50 livros, sendo esses destinados às crianças, jovens e educadores, e recebeu vários prêmios, no Brasil e exterior, entre eles, o Jabuti, com a publicação de Coisas de índio, que já se encontra em sua terceira edição, e foi publicado pela Callis, em 2003. O escritor indígena publicou, também, Um dia na aldeia: uma história Munduruku (2012), O Karaíba (2018), A origem dos filhos do estrondo do trovão: uma história do povo Tariana (2020), dentre outros livros destinados ao público infantojuvenil.
Os livros de Munduruku, além de resgatar a história dos ancestrais da América, os mitos, os jogos, os ritos, dentre outros aspectos, apresentam riqueza nos detalhes com apresentação de ilustrações que se delineiam em cores vibrantes, retomando o traço da arte ameríndia. A linguagem, por vezes, apresenta expressões em dialeto indígena assinalando a inscrição de sua identidade linguística, e enriquecem as narrativas que se desenvolvem a partir da linguagem oral que, por sua vez, assinala, por excelência, a voz dos Povos Indígenas.
Por causa do reconhecimento da qualidade da obra de Daniel Munduruku destinada às crianças e jovens, seus livros receberam o selo Altamente Recomendável, outorgado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Cabe observar que há outros escritores indígenas que estão recebendo visibilidade e angariando espaço na literatura indígena, para citar, Graça Graúna, Eliane Potiguara, Kaká Werá Jecupé.
A literatura escrita pelos povos originários torna-se cada vez mais urgente à proporção que, segundo Olívio Jekupé (2020), a literatura nativa provoca nas escolas das aldeias a necessária valorização dos saberes próprios, historicamente atacados pelo etnocentrismo. Destarte, acreditamos que a proposta, aqui apresentada, pode contribuir não apenas na divulgação da literatura indígena produzida para crianças e jovens, mas também para repensar a história, a sociedade, combater preconceito, atuando, de forma significativa, na formação intelectual, cultural e política do leitor.
Objetivos
Objetivo geral: Analisar a literatura indígena contemporânea destinada às crianças e jovens.
Objetivos específicos:
a) averiguar a relação dos contos com o contexto histórico de sua realização;
b) examinar os elementos estruturais dos contos;
c) reconhecer as estratégias utilizadas para revisitar a história e recontá-la na perspectiva indígena;
d) analisar como a identidade ameríndia é reconstruída na narrativa;
e) observar se há relação da ilustração dos contos com a inscrição da identidade cultural ameríndia;
f) Compreender o comportamento e a cosmovisão indígena na sociedade moderna;
g) refletir sobre a importância da literatura infantojuvenil para a criação de uma nova mentalidade social, política e cultural.
Público-alvo: Acadêmicos, professores, e pesquisadores que se interessam pelo tema em questão.